BLOG DOS POETAS ALMADENSES

«A poesia é o espelho da cultura de cada país e nela se reflectem os estados de alma, anseios e aspirações... tudo o que diz respeito ao mais íntimo das pessoas, dos povos e da humanidade... que seja dita e cantada, que sirva para conectar para além do espaço das ideologias e dos sistemas, porque A POESIA É, FUNDAMENTALMENTE, UM ESPAÇO DE LIBERDADE.»

quinta-feira, março 29, 2007

Não se esqueçam: sábado há "Poesia Vadia"




segunda-feira, março 26, 2007

Outra Vida

Permito-te, lágrima teimosa,
Que me arranhes a face

Esperava-te,
Desejava-te, até.

Agora, ganho coragem
Termino a viagem,

Não vou manter-me
No limbo da desgraça
Não canto fados
Não rezo orações monótonas

Cai a lágrima
Porque a vida, esta,
Não me serve
Porque o tempo, perene,
É amo e senhor
É dono do amor

Depois de voltas e voltas
De corridas em contra mão
Sento-me no silêncio

Da noite

Do vazio

Despejo os segredos
Que me restam
No rio onde adormecerei

Sempre gostei do rio
E do mar
E do céu
E do sol

Não vou morrer fechado
Entre paredes geladas

É tarde.
Acendo um último cigarro
Parente próximo do cálice
Onde se esgota a última gota
Da última garrafa.

Deixo um sorriso,
Breve,

Amanhã estarei noutro mundo
Onde as lágrimas são sorrisos

Nada a temer
A vida toda para viver

Finalmente!!

Autor: Do blog de um poeta almadense ANT
Imagem: google.

I Antologia de Poetas Lusófonos

«Com a colaboração do "Elos Clube de Leiria da Comunidade Lusíada" e de várias instituições dos Países Lusófonos, a Editora "Folheto Edições & Design" vai levar a efeito a publicação da I Antologia de Poetas Lusófonos, no intuito de promover a Poesia e os Poetas dos Países Lusófonos. Tem a colaboração institucional de várias Entidades dos Países Lusófonos e terá várias apresentações públicas. Esta Antologia pretende, também, ser um Elo de ligação entre todos os Poetas da Língua Portuguesa.

Saiba como pode fazer parte desta Antologia através do regulamento (…).

Cumprimentos,
Adélio Amaro
Vice-presidente do Elos Clube de Leiria
Comunidade Lusíada»

Santa igreja

Acabadinho de chegar, através do Hi5:


Tu que quando, a morrer de sede me condenastes
Porque bebi a água benta
Sobre o pretexto que era sagrada
Pequeno padre onde está a tua caridade…

Tu que rezas, para o teu Deus me amaldiçoar
Porque eu não te quis confessar
Uma história de sexo que iria te interessar
Pequeno padre, sabes tu o que significa amar?

Tu que nada soubeste fazer da tua vida
Que tudo te autorizas escondido a traz do teu hábito
De criticar homens, mulheres e crianças
De lhes designar o que são pecados …

Tu, bispo, que nem és peixe nem carne
Obrigando os fiéis, a pais-nossos e avé Marias
Por eles quererem viverem as suas vidas
Assustando-os dizendo lhes já é tarde…

Tu padre, filho de uma igreja sem Moral
Que rejeita a liberdade, e aplaude a ditadura
Aprova os réis, príncipes e a escravatura
Não sabe a diferença entre bem e mal?

Tu igreja sem mestre, traindo os seus próprios filhos
Tu bispo, pedindo o perdão para os padres pedófilos
Ouve as palavras de este ateu por vos excomungado
E não se esqueçam de me dizerem obrigado…

Saibam que no firmamento, com o vosso Satã, a esta hora
Em coro, com os milhares de almas por voz assassinadas
Eu festejo a vossa exterminação, a vossa derrota
Dançando nos túmulos da vossa memorias…

Ámen…

Poeta: Poet of Illusion (http://poet-of-illusion.hi5.com)
Imagem: autor desconhecido.

sexta-feira, março 23, 2007

A dicção moderna

Do nosso amigo/colaborador, João Alexandre Sartorelli (http://alexsartorelli.blogspot.com), recebemos do Brasil, este texto que hoje vos divulgamos:

«A poesia tradicional prendeu-se a métricas fixas e a solução da rima por herança da fase da poesia oral. Mas da mesma forma que a pintura moderna utiliza elementos de composição da pintura clássica, mas libertou-se da necessidade da representação da realidade e tornou-se realidade, a poesia moderna libertou-se da necessidade de seguir esquemas fixos de versificação. No entanto ela utiliza os mesmos elementos da poesia tradicional, ritmo, métrica, assonância, aliteração, porém sem seguir as formas tradicionais.

O poema é um objeto autônomo e que encerra o sentido em si mesmo, sem referência externa (função poética). Assim a forma tradicional seria uma referência externa. Quando os elementos de poesia são utilizados de forma orgânica, compatível com o conteúdo, teremos uma melhor combinação de forma conteúdo, o que só pode enriquecer o poema moderno.

Acredito que tenha surgido uma dicção moderna, que utiliza um verso que parece prosaico mas não é, há um uso elaborada do ritmo, dos jogos sonoros e da sintaxe. E isto em diversos idiomas, como é o caso de Fernando Pessoa, Paul Celan e Joseph Brodsky. E escolhi um escritor em língua latina e dois em línguas anglo-saxônicos pois creio que este tipo de poesia está ligada à nossa época e repercute nos diferentes idiomas.

Um poema emblemático é Todesfuge, de Celan
Começa com
Schwarze Milch der Frühe wir trinken sie abends
wir trinken sie mittags und morgens wir trinken sie nachts
wir trinken und trinken

Leite-breu d' aurora nós o bebemos à tarde
nós o bebemos ao meio-dia e de manhã nós o bebemos à noite
bebemos e bebemos
(tradução de Claúdia Cavalcanti)

As palavras são simples, mas a imagem é forte. O ritmo é avassalador, com o uso adequado de sílabas tônicas e átonas. É um texto angustiante, seguidor da sintaxe mas com uma repetição opressiva.
wir schaufeln ein Grab in den Lüften da liegt man nicht eng
Ein Mann wohnt im Haus der spielt mit den Schlangen der schreibt
der schreibt wenn es dunkelt nach Deutschland dein goldenes Haar Margarete
er schreibt es und tritt vor das Haus und es blitzen die Sterne er pfeift seine Rüden herbei
er pfeift seine Juden hervor läßt schaufeln ein Grab in der Erde
er befiehlt uns spielt auf nun zum Tanz

cavamos uma cova grande nos ares
Na casa mora um homem que brinca com as serpentes e escreve
ele escreve para a Alemanha quando escurece teus cabelos de ouro Margarete
ele escreve e aparece em frente à casa e brilham as estrelas ele
[assobia e chama seus mastins
ele assobia e chegam seus judeus manda cavar uma cova na terra
ordena-nos agora toquem para dançarmos

Com uma sintaxe simples ele cria um texto solene.
No final
ele atiça seus mastins contra nós dá-nos uma cova no ar
ele brinca com as serpentes e sonha a morte é uma mestra
[d' Alemanha
teus cabelos de ouro Margarete
teus cabelos de cinza Sulamita

er hetzt seine Rüden auf uns er schenkt uns ein Grab in der Luft
er spielt mit den Schlangen und träumet der Tod ist ein Meister aus Deutschland

dein goldenes Haar Margarete
dein aschenes Haar Sulamit

Continua o tom de prosa que não é prosa, uma prosa revirada, duplicada e que se transforma em poesia pois o poeta cria um estranhamento. A frase deixa de ser um referência a algo externo e torna-se poesia, num diálogo com as outras frases.

Na mesma linha e num tom menos extremado temos Joseph Brodsky, poeta russo que também escrevia em inglês. Ele começa quase descritivo.

To my daughter

Give me another life, and I'll be singing
in Caffè Rafaella. Or simply sitting
there. Or standing there, as furniture in the corner,
in case that life is a bit less generous than the former.

PARA A MINHA FILHA

Dai-me outra vida e estarei no Caffè Rafaella
a cantar. Ou estarei sentado a uma mesa,
simplesmente. Ou de pé, como um móvel no corredor,
caso essa vida seja menos generosa que a anterior.

(tradução Carlos Leite)

Na próxima quadra ele muda de registro. Continua prosaico, mas já é uma prosa com jogos de significado (“without caffeine or jazz”, sem jazz nem cafeína, “cracks and pores”,rachas e poros,”in your full flower”, como a tua flor se terá aberto)

Yet partly because no century from now on will ever manage
without caffeine or jazz. I'll sustain this damage,
and through my cracks and pores, varnish and dust all over,
observe you, in twenty years, in your full flower.

Contudo, em parte porque nenhum século daqui em diante
conseguirá passar sem jazz nem cafeína, aguentarei esse desplante,
e pelas minhas rachas e poros, verniz e todo de pó coberto,
observarei, daqui a vinte anos, como a tua flor se terá aberto.

Depois ele retorna ao tom de prosa, claro que mantendo os elementos formais da poesia, como o esqueleto sonoro (bear/around/rather/father/older/larger).

On the whole, bear in mind that I'll be around. Or rather,
that an inanimate object might be your father,
especially if the objects are older than you, or larger.
So keep an eye on them always, for they no doubt will judge you.

De um modo geral, lembra-te de que estou por ali. Ou melhor, que
um objecto inanimado pode ser o teu pai, sobretudo se
os objectos forem mais velhos do que tu, ou maiores. Não
os percas de vista, pois, sem dúvida, te julgarão.

O próprio poema se veicula como tosco, mas é uma referência que reforça a poética,

Love those things anyway, encounter or no encounter.
Besides, you may still remember a silhouette, a contour,
while I'll lose even that, along with the other luggage.
Hence, these somewhat wooden lines in our common language.

Seja como for, ama essas coisas, haja ou não encontro.
Além disso, pode ser que ainda te lembres duma silhueta, dum contorno,
ao passo que eu até isso perderei, juntamente com a restante bagagem.
Daí estes versos, algo toscos, na nossa comum linguagem.

Pessoa começa o poema com versos diretos e vigorosos

TABACARIA

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Quando o poema entra em uma fase de reflexão, ele fica mais regular

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Esse é um caminho importante na poesia moderna. O compromisso do poeta não é exatamente com a forma. A forma que ele utiliza deve adequar-se ao conteúdo. Assim temos um verso mais regular em Brodsky, o tema é leve, um metro variável em Pessoa que transmite uma angústia metafísica, e finalmente um metro entre variável e constante que transmite o clima de opressão do poema de Celan.

Todos constroem uma narrativa, mas uma narrativa a serviço de um sentimento do homem acuado em Celan, do homem além de si mesmo em Pessoa, do homem carinhoso em Brodsky. Celan usa uma narrativa circular, de repetição, reiteração. Pessoa é o mestre do ritmo e do significado. Brodsky é mais coloquial que os outros dois, mas isso cabe muito bem.

Os três autores indicam que há um caminho muito rico. O importante é que eles não indicam um modelo rígido que poderia ser uma camisa de força para outros poetas. Pelo contrário, eles apresentam uma maneira original de utilizar a matéria com que são feitos os poemas.»

quinta-feira, março 22, 2007

Dia Mundial da Poesia

Ontem, dia 21 de Março, foi o DIA MUNDIAL DA POESIA.

E os Poetas Almadenses, não podiam deixar de assinalar esse dia.

Por isso, reuniram-se para proceder ao lançamento do livro OS PÁSSAROS E O AZUL, de Isidoro Augusto, um poeta e amigo, nosso colaborador na colecção INDEX POESIS, a fanzine de divulgação de poemas inéditos cujos cadernos Uma Dúzia de Páginas de Poesia estiveram suspensos durante cerca de dois anos. A 1.ª série terminou no n.º 47, mas Ermelinda Toscano anunciou a publicação de mais treze números (com um novo grafismo, mais apelativo).

Antes de passar à leitura de poesia, a verdadeira anfitriã da noite e o motivo que levou os presentes a se reunir, Ermelinda Toscano anunciou uma novidade:
«O "nosso autor", nosso porque a poesia quando se partilha passa a ser de todos quantos a escutam, o meu amigo ISIDORO AUGUSTO, foi o vencedor do Prémio de Poesia da Cidade de Almada 2006», o que mereceu uma grande salva de palmas, e convidou todos os presentes a estarem presentes no próximo dia 12 de Abril, pelas 21h, no Auditório Fernando Lopes Graça do Fórum Romeu Correia, em Almada, para assistirem à cerimónia da entrega oficial do respectivo prémio.

Em jeito de reconhecimento pelo mérito do seu trabalho, Ermelinda Toscano informou que iria estar disponível para venda, pela módica quantia de 1€ (preço de custo do papel, já que esta publicação não tem quaisquer objectivos comerciais mas, apenas, de divulgação), o caderno n.º 50 da colecção INDEX POESIS: De Branca Cal, de Isidoro Augusto.

Os restantes volumes serão apresentados no próximo dia 31 de Março, último sábado do mês, durante a sessão de POESIA VADIA, para a qual todos ficaram convidados. São eles:
48 - Susana Barão;
49 - Alexandre Sartorelli;
51 - Maria Gertrudes Novais;
52 - Carlos Silvamar;
53 - Filipe Raveira e Margarida Haderer;
54 - Isabel Moreira (V);
55 - António Vitorino (III);
56 - Minda;
57 - Alberto Afonso (II);
58 - AnyAna (II);
59 - Rambert;
60 - Diversos: João Monge, Alves Fernandes, João Pedro Roiz, Nelson Rossano, Bruno Pereira e Amália Lopes.

Depois de uma breve apresentação do livro Os Pássaros e o Azul, Helena Peixinho e Fernando Rebelo leram poemas do livro recebendo os aplausos da assistência pela forma sentida como conseguiram dar vida às palavras de Isidoro Augusto.

Alexandre Castanheira, um dos mais consagrados poetas da nossa terra, leu um poema que dedicara ao seu amigo Isidoro Augusto, facto este que muito o emocionou.

De seguida, ao estilo das sessões de «Poesia Vadia» tão queridas de todos, leram poemas António Boieiro, Gertrudes Novais, Idalina Rebelo, Maria Júlia, Gabriel, Rosette e Luís Milheiro.

A noite terminou com Alexandre Castanheira a ler alguns poemas de um poeta popular brasileiro… mais um pilar da “ponte poética” que estamos a construir para atravessar o Atlântico, de Portugal ao Brasil.

E, a terminar, não podíamos deixar de referir dois outros acontecimentos:
A distribuição das «Letras com o Café», poemas da colecção Index Poesis oferecidos a todos que pedissem uma chávena do dito;
A oferta do n.º 29 da fanzine de poesia «Debaixo do Bulcão», que nasceu há mais de uma década… uma publicação que tem desempenhado um importante papel na divulgação de trabalhos inéditos, funcionando como um excelente incentivo à produção poética, sobretudo junto dos jovens autores.

No final, seguiu-se a sessão de autógrafos, bastante animada, como não podia deixar de ser.

Fotografias: Luís Milheiro.

sexta-feira, março 16, 2007

É já na 4.ª feira

quinta-feira, março 08, 2007

Mulher de Abril

Hoje é o DIA INTERNACIONAL DA MULHER. Por isso, deixamo-vos aqui um poema do nosso amigo Nogueira Pardal, dedicado à sua e nossa amiga, a saudosa Maria Rosa Colaço:

Perdi-te na planura alentejana
Sabendo que te tornaria a encontrar,
Porque a mulher-povo não engana
Aqueles a quem um dia fez sonhar.

Por isso divisei o teu sorriso
Na longa marcha pela liberdade...
Tu estavas, como sempre, onde é preciso,
Canção em riste a lutar pela verdade.

E quando eu te disse com voz rouca:
Chegou a liberdade que sonhaste!
Apenas saiu da tua boca
O cravo rubro com que me beijaste!

sexta-feira, março 02, 2007

[A escrita]

Falta-me a escrita.
Aquela que eu senti sempre sem ter que pensar.
Aquela escrita repentina
que surge como um tempestade no meio do Verão.
Aquela escrita metafórica
cheia de imagens mutantes,
formas de rios coloridos
e vitrais que ganham vida
libertando os santos
da prisão da pintura dos homens.
Sinto falta daquele grito incessante
que movia mares e criava Atlântidas.
Aquela escrita mágica de não ter que raciocinar
mas simplesmente deixar a mão deslizar
pela folha criando a palavra.
A palavra que pinta, dança, canta,
constrói o sorriso do infante
e mata o ódio do infame.
Sinto falta da escrita que não é minha,
é simplesmente sua.
A escrita livre que não pertence a ninguém
a não ser a ela própria
A escrita.

Poema: António Boieiro.

[Jogos cor de vazio]

Nas paredes vergonhas negras
de desculpas fáceis,
impérios inacabados forjados
no ódio na ganância e na falta de
amor.
Jogos cor de guerra
guerras sem cor de gente
gente em guerra com a cor.
A cor combate a esfera
a esfera ilude a cruz
a cruz deseja a terra
a terra é a esfera e a
cruz.
Jogos cor de vazio,
vazio sem cor de tudo-
Tudo com as cores trocadas, espalhadas,
entregues por meia dúzia de patacas.
A terra gera as cores
as cores geram os homens,
os homens combatem pela cor.
Poema: António Boieiro.
Imagem: Muro em Arruda dos Vinhos, de Ermelinda Toscano.