BLOG DOS POETAS ALMADENSES

«A poesia é o espelho da cultura de cada país e nela se reflectem os estados de alma, anseios e aspirações... tudo o que diz respeito ao mais íntimo das pessoas, dos povos e da humanidade... que seja dita e cantada, que sirva para conectar para além do espaço das ideologias e dos sistemas, porque A POESIA É, FUNDAMENTALMENTE, UM ESPAÇO DE LIBERDADE.»

sexta-feira, outubro 16, 2009

Convite: sábado - 17h, venha "comer poesia"


RECEITA POÉTICA
Escolhe-se uma poesia, o ingrediente principal.
De seguida, juntam-se mais alguns ingredientes
(que combinam, gastronomicamente, palavras e sentidos).
Junta-se inspiração e criatividade q.b.
Serve-se com alegriam, acompanhada de amigos.
Grau de dificuldade: simples.
Sábado, dia 17 de outubro, a partir das 17h, na Sala Pablo Neruda do Fórum Romeu Correia, Praça da Liberdade, Almada.
Entrada Livre.
Organização: Biblioteca Municipal e Poetas Almadenses.
Poema inspirador:
A Defesa do Poeta

Senhores jurados sou um poeta
um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto

Sou um vestíbulo do impossível um lápis
de armazenado espanto e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim
Sou em código o azul de todos
(curtido couro de cicatrizes)
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes

Senhores banqueiros sois a cidade
o vosso enfarte serei
não há cidade sem o parque
do sono que vos roubei

Senhores professores que puseste
a prémio minha rara edição
de raptar-me em crianças que salvo
do incêndio da vossa lição

Senhores tiranos que do baralho
de em pó volverdes sois os reis
sou um poeta jogo-me aos dados
ganho as paisagens que não vereis

Senhores heróis até aos dentes
puro exercício de ninguém
minha cobardia é esperar-vos
umas estrofes mais além

Senhores três quatro cinco e sete
que medo vos pôs na ordem?
que pavor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem?

Senhores juízes que não molhais
a pena na tinta da natureza
não apedrejeis meu pássaro
sem que ele cante minha defesa

Sou uma impudência a mesa posta
de um verso onde o possa escrever
ó subalimentados do sonho!
a poesia é para comer
.

Natália Correia
Poemas a saborear:
(uma fatia de bolo acompanhada de uma chávena de chá)
Sentir o toque do mar imenso

Sentir o toque do mar imenso
inundar o espírito,
purificar o ser,
como se de água fosse feita a alma.
Descer às profundezas
de um abismo de cor,
deixar de pensar,
exorcizar a dor,
deslizar lentamente
sobre um céu de mil prantos
e ser um só com o mar.
António Boieiro
Poema


Quando tenho saudades de ti
Não, não choro, não vale a pena
Pego na caneta, no papel
Invento as linhas de um poema.

Um poema, que fala, que sente
Que também tem sua voz
Um poema que diz
Amar é nunca estarmos sós.

Humberto Santos
Melodia

A vontade com que me enlaças,
O beijo que me aquece,
Meu coração agradece
Tudo quanto por mim faças.
Pássaro solto na madrugada
Chilreando ao som da tua voz,
Canção cantada só para nós,
Numa melodia, doce, inspirada.
Amor! Longe, mas tão perto!
Como a imensidão do horizonte
Deixa-me beber em tua fonte,
Sem a aridez do deserto.
Dunas de branca areia,
De sol bem escaldante,
É para nós tão importante
A verdade que nos enleia.
Poder ao mundo gritar
Sem sentimento escondido,
A vida tem outro sentido,
É tão bom, assim amar.

Maria Gertrudes Novais
Ponte

Entre
dois bocados
de mim
descubro
a tua sombra.

Imolo-me
no teu altar
e em fogo
puro
escrevo ... escrevo ...

Construo-te
e desenho-te.

Imagem
projectada
por mim

perpetuas-me
como sonho,

desenhas-me
a realidade.

António Alberto
Palavras no café

Cantar é a luz que vem da fresta
Alumiar a vida de quem ama,
Fazer dum rio de mágoa um mar de festa,
É queimar a tristeza em doce chama.

Cantar é vencer a solidão
Ousar gritar quando se tem razão,
Mostrar a todos a força da canção!

Lutar é erguer a nossa voz
E mesmo quando nos sabemos sós
Ter a coragem de manter a fé!
Retórica de poeta sem talento,
A tentar mudar o mundo num momento
Sentado, só, à mesa do café!

A todos os amigos que na tarde do último sábado de cada mês se juntam no café, por amor à poesia!

Cacilhas, 31/05/2003

Nogueira Pardal

nem sempre as águas me levam
ao saber
eterno.

calmas
são as margens
do que sinto e do que vejo.

tão branco é o que escrevo.

Isidoro Augusto