BLOG DOS POETAS ALMADENSES

«A poesia é o espelho da cultura de cada país e nela se reflectem os estados de alma, anseios e aspirações... tudo o que diz respeito ao mais íntimo das pessoas, dos povos e da humanidade... que seja dita e cantada, que sirva para conectar para além do espaço das ideologias e dos sistemas, porque A POESIA É, FUNDAMENTALMENTE, UM ESPAÇO DE LIBERDADE.»

quinta-feira, outubro 22, 2009

Convite: venha assistir à próxima sessão de "Poesia Vadia"


domingo, outubro 18, 2009

E lá se comeu a poesia toda...

No passado sábado fomos “comer poesia”… e a surpresa agradou às várias dezenas de pessoas que resolveram aparecer.
Cheias de curiosidade, quinze minutos antes já faziam fila esperando… e era vê-los e tentando cruzar o olhar através da porta fechada para ver se descobriam o mistério.
Assim que a porta se abriu, deram de caras com a mesa dos ingredientes: a nossa receita poética que misturava palavras e sabores, letras e paladares… e duas pequenas ofertas:
Um marcador de livros com o poema da Natália Correia «A Defesa do Poeta», cujos dois últimos versos foram o motor inspirador da sessão em causa;
Um pequeno caderno de culinária «Canela & Companhia. Doces com imaginação», da autoria de Ermelinda Toscano e Sofia Barão.
A completar o cenário tínhamos uma pequena mostra de vários livros de poesia disponíveis na Biblioteca Municipal Romeu Correia e uma apresentação das obras editadas pelos Poetas Almadenses.
E, na sala principal, com as mesas dispostas ao estilo de café concerto, tínhamos ao fundo a mesa com a rainha da tarde: a poesia para comer. Vários doces, seis no total, confeccionados pela nossa poetisa Gertrudes Novais («Doces da Mimi», Rua da Liberdade, n.º 20A, Almada – 212767447) tendo por base os poemas sorteados de António Alberto (A ponte), António Boieiro (Sentir o toque do mar imenso), Humberto Santos (Poema), Isidoro Augusto (sem título), Maria Gertrudes Novais (Melodia) e o poema Palavras no Café (de Nogueira Pardal), dedicado ao grupo de poetas que se começou a reunir num café, em Cacilhas, no último sábado de cada mês, em Março de 2003.

Entretanto, a gerente da Casa de Chá e Restaurante «Chá & Guloseimas» (Praça da Liberdade, Galeria Comercial – 1.º piso, 212743782), que se associou à nossa iniciativa (Poetas Almadenses e CMA), ofereceu o chá quente para acompanhar a degustação da poesia que seria feita na segunda parte.

Armando Correia, Director da Biblioteca Municipal Romeu Correia, abriu a sessão e Ermelinda Toscano, em nome dos Poetas Almadenses, explicou como iria decorrer a tarde.

Os primeiros 45 minutos foram ao estilo “poesia vadia” com os poetas presentes a declamarem os poemas que haviam trazido para partilhar com os amigos, havendo a destacar a presença de muitos autores que apareceram pela primeira vez.

Para surpresa de todos, a Ana Magalhães trouxe um amigo, o Toni, com a sua viola, que a acompanhou enquanto declamava e ainda nos brindou com uma canção. Ofereceu uma tarte de maçã e um jarro de sangria.

Depois, seguiu-se a leitura dos poemas a comer e a Gertrudes explicou como foi o processo criativo de escolha dos ingredientes por associação à mensagem de cada poema.

Eunice Figueiredo, técnica superior da Biblioteca e a responsável pela organização do evento em parceria com Ermelinda Toscano, encerrou esta parte explicando como nascera a ideia de fazer esta sessão.

Entretanto, cada um dos presentes tirou à sorte dois poemas da “cesta da poesia” e dirigiu-se à mesa para levantar os respectivos sabores. E foi um corrupio de gente entusiasmada a querer provar os poemas que lhe coubera.

A música de fundo convidava à descontracção. A alegria sentia-se no ar.

E a tarde assim foi terminando, num são convívio. Conversas trocadas, risos de satisfação, versos soltos entre as mesas, garfadas de sabor que convidavam à repetição havendo quem pedisse mais dois, até quatro poemas, para degustá-los a todos…

Nas paredes os quadros da exposição «Três olhares a mesma paixão pela cor», uma organização da SCALA em colaboração com a CMA, captou, também, o interesse de todos os presentes.


E aqui fica a fotoreportagem completa com quase cem imagens:




Nota final:
Queremos deixar aqui expresso, publicamente, o nosso sincero agradecimento à CMA, ao Director da Biblioteca e a todo o pessoal que colaborou nesta iniciativa, com particular destaque para Eunice Figueiredo, aos poetas presentes (muito em especial a Alexandre Castanheira, Nogueira Pardal, Ana Magalhães, Amélia, Manuel Delgado, Santos Zoio, Ofélia, Teresa David e Gertrudes Novais, além de outros que não se apresentaram e, por isso, não podemos citar os seus nomes mas cuja participação ficou registada nas imagens), à loja Doces da Mimi, ao Restaurante Chá & Guloseimas, ao Toni e a todos os que vieram ouvir-nos.

sexta-feira, outubro 16, 2009

Convite: sábado - 17h, venha "comer poesia"


RECEITA POÉTICA
Escolhe-se uma poesia, o ingrediente principal.
De seguida, juntam-se mais alguns ingredientes
(que combinam, gastronomicamente, palavras e sentidos).
Junta-se inspiração e criatividade q.b.
Serve-se com alegriam, acompanhada de amigos.
Grau de dificuldade: simples.
Sábado, dia 17 de outubro, a partir das 17h, na Sala Pablo Neruda do Fórum Romeu Correia, Praça da Liberdade, Almada.
Entrada Livre.
Organização: Biblioteca Municipal e Poetas Almadenses.
Poema inspirador:
A Defesa do Poeta

Senhores jurados sou um poeta
um multipétalo uivo um defeito
e ando com uma camisa de vento
ao contrário do esqueleto

Sou um vestíbulo do impossível um lápis
de armazenado espanto e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim
Sou em código o azul de todos
(curtido couro de cicatrizes)
uma avaria cantante
na maquineta dos felizes

Senhores banqueiros sois a cidade
o vosso enfarte serei
não há cidade sem o parque
do sono que vos roubei

Senhores professores que puseste
a prémio minha rara edição
de raptar-me em crianças que salvo
do incêndio da vossa lição

Senhores tiranos que do baralho
de em pó volverdes sois os reis
sou um poeta jogo-me aos dados
ganho as paisagens que não vereis

Senhores heróis até aos dentes
puro exercício de ninguém
minha cobardia é esperar-vos
umas estrofes mais além

Senhores três quatro cinco e sete
que medo vos pôs na ordem?
que pavor fechou o leque
da vossa diferença enquanto homem?

Senhores juízes que não molhais
a pena na tinta da natureza
não apedrejeis meu pássaro
sem que ele cante minha defesa

Sou uma impudência a mesa posta
de um verso onde o possa escrever
ó subalimentados do sonho!
a poesia é para comer
.

Natália Correia
Poemas a saborear:
(uma fatia de bolo acompanhada de uma chávena de chá)
Sentir o toque do mar imenso

Sentir o toque do mar imenso
inundar o espírito,
purificar o ser,
como se de água fosse feita a alma.
Descer às profundezas
de um abismo de cor,
deixar de pensar,
exorcizar a dor,
deslizar lentamente
sobre um céu de mil prantos
e ser um só com o mar.
António Boieiro
Poema


Quando tenho saudades de ti
Não, não choro, não vale a pena
Pego na caneta, no papel
Invento as linhas de um poema.

Um poema, que fala, que sente
Que também tem sua voz
Um poema que diz
Amar é nunca estarmos sós.

Humberto Santos
Melodia

A vontade com que me enlaças,
O beijo que me aquece,
Meu coração agradece
Tudo quanto por mim faças.
Pássaro solto na madrugada
Chilreando ao som da tua voz,
Canção cantada só para nós,
Numa melodia, doce, inspirada.
Amor! Longe, mas tão perto!
Como a imensidão do horizonte
Deixa-me beber em tua fonte,
Sem a aridez do deserto.
Dunas de branca areia,
De sol bem escaldante,
É para nós tão importante
A verdade que nos enleia.
Poder ao mundo gritar
Sem sentimento escondido,
A vida tem outro sentido,
É tão bom, assim amar.

Maria Gertrudes Novais
Ponte

Entre
dois bocados
de mim
descubro
a tua sombra.

Imolo-me
no teu altar
e em fogo
puro
escrevo ... escrevo ...

Construo-te
e desenho-te.

Imagem
projectada
por mim

perpetuas-me
como sonho,

desenhas-me
a realidade.

António Alberto
Palavras no café

Cantar é a luz que vem da fresta
Alumiar a vida de quem ama,
Fazer dum rio de mágoa um mar de festa,
É queimar a tristeza em doce chama.

Cantar é vencer a solidão
Ousar gritar quando se tem razão,
Mostrar a todos a força da canção!

Lutar é erguer a nossa voz
E mesmo quando nos sabemos sós
Ter a coragem de manter a fé!
Retórica de poeta sem talento,
A tentar mudar o mundo num momento
Sentado, só, à mesa do café!

A todos os amigos que na tarde do último sábado de cada mês se juntam no café, por amor à poesia!

Cacilhas, 31/05/2003

Nogueira Pardal

nem sempre as águas me levam
ao saber
eterno.

calmas
são as margens
do que sinto e do que vejo.

tão branco é o que escrevo.

Isidoro Augusto