Redondo e triste
chegou assim
redondo e triste
como o lamento
o músico
o navio
as mãos ficavam-lhe em silêncio
atentos
os ouvidos esses
ao cantar do galo
pela madrugada
enquanto as lágrimas de uma estranha
infância
o alegram e desafiam
lá longe de tão perto
agora na distância
o cheiro intenso
de uma açorda
mais os coentros
e beldroegas
o caiar do adro
a torre sineira
o bater de asas
de uma cegonha
o chiar do carro
que leva os cântaros
à fonte
que leva os cântaros
à água
o mel de abelhas
o monte
o brilho intensoda palavra.
“à palavra”
apetece-me voltar à terra assim
como quem volta ao
doce acordar da
água
logo pela manhã o
verde encanto de
um
sorriso
junto aos lábios a
casa
onde o sabor
maduro de
romãs
lembra o
auge ponto de
um verão
em que a cal agora
abraça o
chegar surpreso da
velha
sombra
tão velha quanto o
limoeiro
onde o namoro agita
uma mão sobre o tronco
enquanto a outra explora os
flancos adocicados da
alva luz que
em jorro se
lança quente à
terra
à palavra
como semente.
“onde”
a palavra era vasta e
por vezes não cabia nas
alvoradas do grande sonho
ali onde
aprendi a amar a
terra e a criar laços com
as pessoas
há quem desenvolva o
conceito da
continua ocupação do
espaço por
exemplo a
vinha instalara-se em
extenso no
meu querido Alentejo
a espiga dos trigais e
as ceifeiras no campo assim
desapareciam para dar
lugar ao
progresso e
ao vasto pousio
melhor dizendo ao
abandono
mas que distância é esta que
vai do prazer do
risco até à ousadia formal
sublinhe-se aqui continuamente
nesta espera onde
à falta de ideias se
morre.
Sessão de poesia A Palavra e o Seu Corpo (poema: Isidoro Augusto; quadro: Luís Miguel).
Etiquetas: A Palavra e o seu Corpo
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