BLOG DOS POETAS ALMADENSES

«A poesia é o espelho da cultura de cada país e nela se reflectem os estados de alma, anseios e aspirações... tudo o que diz respeito ao mais íntimo das pessoas, dos povos e da humanidade... que seja dita e cantada, que sirva para conectar para além do espaço das ideologias e dos sistemas, porque A POESIA É, FUNDAMENTALMENTE, UM ESPAÇO DE LIBERDADE.»

segunda-feira, janeiro 21, 2008

Redondo e triste


Imagem 5: "defendida" por Francisco Naia.


chegou assim
redondo e triste
como o lamento
o músico
o navio
as mãos ficavam-lhe em silêncio
atentos
os ouvidos esses
ao cantar do galo
pela madrugada
enquanto as lágrimas de uma estranha
infância
o alegram e desafiam
lá longe de tão perto
agora na distância
o cheiro intenso
de uma açorda
mais os coentros
e beldroegas
o caiar do adro
a torre sineira
o bater de asas
de uma cegonha
o chiar do carro
que leva os cântaros
à fonte
que leva os cântaros
à água
o mel de abelhas
o monte
o brilho intensoda palavra.

“à palavra”

apetece-me voltar à terra assim
como quem volta ao
doce acordar da
água
logo pela manhã o
verde encanto de
um
sorriso
junto aos lábios a
casa
onde o sabor
maduro de
romãs
lembra o
auge ponto de
um verão
em que a cal agora
abraça o
chegar surpreso da
velha
sombra
tão velha quanto o
limoeiro
onde o namoro agita
uma mão sobre o tronco
enquanto a outra explora os
flancos adocicados da
alva luz que
em jorro se
lança quente à
terra

à palavra

como semente.

“onde”

a palavra era vasta e
por vezes não cabia nas
alvoradas do grande sonho
ali onde
aprendi a amar a
terra e a criar laços com
as pessoas
há quem desenvolva o
conceito da
continua ocupação do
espaço por
exemplo a
vinha instalara-se em
extenso no
meu querido Alentejo
a espiga dos trigais e
as ceifeiras no campo assim
desapareciam para dar
lugar ao
progresso e
ao vasto pousio
melhor dizendo ao
abandono

mas que distância é esta que
vai do prazer do
risco até à ousadia formal
sublinhe-se aqui continuamente
nesta espera onde
à falta de ideias se
morre.

Sessão de poesia A Palavra e o Seu Corpo (poema: Isidoro Augusto; quadro: Luís Miguel).

Etiquetas: