A sessão de “Poesia Vadia” de sábado passado foi a primeira de 2007 e uma das melhores de sempre. Aliás, nestas tertúlias poéticas cada uma é melhor do que a anterior, sobretudo as desta segunda série. Alguém até dizia que, qual fénix renascida (numa alusão ao esmorecimento que vinha ocorrendo nas últimas apresentações no “Café com Letras” – antecessor do actual café “Sabor & Art”) a “Poesia Vadia” estava, agora, no seu apogeu.

A partir das 17h a casa ficou cheia. A maioria eram os clientes habituais (há quem não perca uma sessão) mas havia, também, muitas caras novas. A poesia estava em todo o lado. Em cima das mesas os livros eram a personagem principal mas o frio e o facto de ser horas do lanche fazia com que se desejasse, também, aquecer a alma com outros alimentos (ai, ai, aquelas farófias estavam, simplesmente... divinas. E a responsável é a senhora atrás do balcão, a mãe do Manuel, o gerente da casa – neste dia a família juntou-se, incansável, no esforço para que tudo corresse bem e, por isso, o pai e os irmãos também lá estavam).
Tivemos a honra de ter presente um dos mais notáveis poetas almadenses: o professor Alexandre Castanheira, que deu início à sessão. A seguir, António Boieiro deliciou os presentes com a leitura, abreviada, do manifesto Anti-Dantas (de Almada Negreiros) e era ouvir um coro de vozes animadas a cada “Morra o Dantas, morra PIM!”... um espectáculo.
Mas o dia teve outra novidade. A transmissão em directo para o Brasil: a “ponte poética” que estamos a construir, graças à Internet, tornou-se uma realidade. Esta foi, portanto, uma sessão intercontinental. Com leitura de poemas a pedido, para deleite da Lane (a esposa do gerente do café “Sabor & Art” que se encontra no outro lado do Atlântico e aproveitou, assim, para partilhar alguns momentos com os amigos de Cacilhas e vice-versa).
Nesta tarde, que começou ainda era dia e terminou noite dentro, com a poesia em roda livre, temos a destacar, ainda, a presença de Nelson Rossano (prémio revelação 2006 de poesia no concurso literário Manuel Barbosa du Bocage) e de Rogério Simões (autor do blog “Poemas de Amor e Dor” que se mantém há vários anos no top dos mais visitados do Sapo) e que nos emocionou a todos com a leitura dos seus poemas.
De salientar, também, a participação de: Humberto Santos que se deixou emocionar ao ler o poema que dedicou aos “Poetas Vadios” tendo, no final, distribuído um exemplar a todos os presentes; Nogueira Pardal, que nos trouxe o sabor dos campos do Alentejo; Rosette, a ternura das palavras declamadas; Bernardes-Silva, a magia dos sonetos de amor; Rui Diniz, a irreverência da juventude; Didier Ferreira, a força de vencer; Filomena, a sensualidade na poesia; Henrique Mota, a lembrança dos amigos e familiares.
Houve quem se estreasse nestas andanças da declamação e porque não se apresentou, ficamos sem saber quem o seu nome. Mas porque a poesia a todos aproxima, partilha-se a mesma mesa, conversa-se como se fossemos todos amigos de longa data.
As pequenas pausas entre cada declamação são aproveitadas para escolher o próximo poema a ler. A concentração é total, cada um compenetrado naquilo que pretende ir dizer, procurando as palavras certas para ler com sentimento, emoções à flor da pele.
A ocasião propicia a conversa entre amigos, reencontros após longa data de afastamento. A satisfação vê-se nos rostos, o ambiente convida a entrar. Não havendo lugar ficasse em pé ao balcão ou à porta a ouvir, porque é impossível passar e resistir indiferente.
No final, por iniciativa do autor, foram oferecidos aos presentes uma dezena de exemplares do último livro de Pedro Alves Fernandes, Pintura Astral – As Palavras Onde Me Perco (editado em Novembro de 2006)... porque a poesia é, acima de tudo, um acto de partilha.
E ao terminar, custa ir embora... por isso muitos ficam na rua a conversar, a acertar próximos encontros ou a combinar projectos futuros. Afinal, apenas a retardar o momento da despedida. Mas felizes porque sabem de antemão que um mês passa depressa e no dia 24 de Fevereiro a “Poesia Vadia” continua.
Fotografias: Ermelinda Toscano.